"As portas da perçepção foram abertas, tudo passa a ser como realmente é: infinito". O efêmero passa a ser intenso, mais intenso do que nunca. A vida é vista no seu sentido pleno, nada se esvai a ela. Não há mais fim nem começo, a mentira confunde-se com a verdade, no fundo sempre foi o mesmo. E...O portal da mente é aberto...

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Espírito Natalino



-Mãe, eu não quero esse carro pequeno, quero aquele grande ali ó - dizia a criança esboçando um choro daqueles.

A mãe tentava acalmar a criança que sentou no meio da loja de braços cruzados e com lagrimas nos olhos e se negava a sair dali sem o brinquedo tão desejado. A esta altura chegava um homem, bem vestido, com os habituais terno e gravata, para se juntar aquela cena. Imaginei ser ele o pai da criança, além de empresário. Depois de alguns minutos de uma conversação que parecia incessante, e havia tirado minha atenção dos CDs e DVDs que “foleava” na prateleira da loja, o casal saiu, junto com o garoto, segurando seus dois pacotes (o carro pequeno, e o grande por qual tanto insistiu) rumo ao carro, este maior ainda, importado do outro lado da rua.

Era véspera da véspera de Natal, e todas as lojas daquele centro comercial encontravam-se repletas de gente, e enfeitadas com aquelas decorações clichês desta época. Muitas cores fortes, e promoções a perder de vista. Isso só aumentava minha repulsa a esta época que nunca fui fã. Acho que é porque na infância minhas cartas para Papai Noel nunca tinham respostas, por mais que na TV os filmes de fim de ano mostrassem o contrário.

Peguei meu CD, que tanto demorei para escolher, e fui para a fila gigante do caixa  que aumentava a cada minuto que se passava. Odiava pegar fila, mas como eu não tinha pressa naquele dia esperei pacientemente.

- ...aff, eu não suporto aquela perua. Só imagino que vestido ela vai usar amanhã na ceia, dessa vez encomendei o meu para ela não imitar novamente.- falava enquanto uma outra mulher ouvia atentamente.
- Mas não é amiga, ela é muito cínica. Se eu fosse você...- a mulher com quem falava a cutucou com o cotovelo para que parasse de falar.
- Olha, ela vem ali.- preveniu a companheira.
-Oi amiga, quanto tempo, que saudade de você...

Neste momento havia chegado minha vez de ser atendido, e deixei de observar as mulheres que se abraçavam e se beijavam aproveitando o clima natalino.

No caminho para casa, vendo os barracos e casas pobres da comunidade que ficava nos arredores do comércio refletia sobre as cenas que a pouco havia presenciado. Foi quando vi uma criança, suja, mal vestida, que corria alegremente com um cordão que segurava uma espécie de carro produzido com uma garrafa. Aos poucos percebi que ela ia em direção a uma outra criança, de expressões tristes que estava sentada a contemplar um outdoor que ficava nos arredores da comunidade. O menino que brincava com seu carro improvisado, depois de trocar algumas poucas palavras com a criança que estava sentada entregou-lhe o cordão com a garrafa que havia sido transformada em brinquedo. As feições antes tristes daquela criança que se encontrava sentada, se transformaram num sorriso que me fez esquecer, pelo menos por um momento que era época de Natal.

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