"As portas da perçepção foram abertas, tudo passa a ser como realmente é: infinito". O efêmero passa a ser intenso, mais intenso do que nunca. A vida é vista no seu sentido pleno, nada se esvai a ela. Não há mais fim nem começo, a mentira confunde-se com a verdade, no fundo sempre foi o mesmo. E...O portal da mente é aberto...

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A Tempestade e o Homem Azul

Ele, Homem
Ela, Tempestade.
Ele sem pretensão alguma a encontrou num desses dias em que a força do acaso parece conspirar mais que o comum. Meio que por impulso molhou-se nela. Não sabia bem porque, não pensou muito no que estava a fazer. Simplesmente foi atraído pela beleza daquele espetáculo e seguiu a vontade que sentia.

Num banho belo, e pleno sentia as gotas dela, tocar-lhe a alma. Gotas fortes, mas ao mesmo tempo tão delicadas. E então sua alma ao ser tocada brilhava em um azul vivo. Nunca havia sentido essa sensação, uma alegria incessante, e aquela vontade de apenas sorrir e se juntar a Ela. Sim, pela primeira vez em muitos anos estava feliz. Seu coração pulsava forte ao senti-la. Tão bela era Tempestade, ele a queria cada vez mais, não queria que esse momento acabasse. 

Quando aquele momento findou-se, Ele estava renovado, e queria aquilo mais vezes. E seu pensamento tinha agora apenas um destino, seu olhar perdido a procurava. Acordava sorrindo, pois havia sonhado com Ela. Será que isto era o que chamavam de amor?  Este sentimento que nunca havia sentido, e conhecia apenas das belas histórias que todos contavam.

Não tinha tempo para pensar nisso tudo, apenas queria vê-la de novo, senti-la novamente. Todo fim de tarde ia a sua procura, mas Ela não mais aparecia, sempre escapava. E então o Homem Azul, perdia seu brilho, e voltava ao seu mundo cinzento.

Mas a Tempestade também a Ele sentia-se ligada, não sabia como, nem porque, mas seu azul era mais forte quando estava com Ele, suas gotas eram mais doces. E seu encanto, parecia perder-se naquele mero mortal. Mas não podia estar acontecendo isto, era impossível estar apaixonada por um mero “Homem”. Como poderiam um dia pensar em ficar juntos? Como poderia Ela, Tempestade estar apaixonada por Ele, um Homem? Pareceria-lhe inconcebível aquela idéia, se seu coração (sim as tempestades também tem um) não dissesse e sentisse o contrário.

O Homem apesar de tudo não desistiu, e certo fim de tarde pôs-se a clamar por Ela de joelhos. E a pedir seu coração, Ele queria senti-la novamente, estava apaixonado, e hoje sabia o que era o amor, que tanto resistiu outrora a sentir.

Vendo o apelo daquele Homem desesperado, Ela decidiu não mais pensar, tudo que queria agora, era entregar seu coração aquele pobre mortal. E a Tempestade veio, e o Homem pôde sentir de volta aquele azul, pôde sentir sua alma brilhar, e unir-se aquela Tempestade. Eram felizes, eram unos. Sentiam-se como nunca. Ele tinha a certeza que em outra vida havia sido uma nuvem, ou um anjo, que vivia junto a Ela. E Ela sentia que outrora havia sido uma mulher, e que vivia com aquele Homem. Estavam entrelaçados por uma força maior que tudo aquilo, uma força que os fazia suportar a distancia, e que fazia de tudo aquilo algo maravilhoso. Eram a Tempestade e o Homem Azul.

O tempo...Muitos dizem que ele cura, outros tantos  acham que ele faz adormecer. Para eles pouco importava se mundo estava a girar e junto com ele o tempo, estavam cada vez mais apaixonados, cada vez mais amando um ao outro. Ele já não conseguia viver sem ela, não queria outra vida. Ela já não mais se importava se ele era apenas um Homem, só queria saber de amá-lo, e de atravessar os limites da razão e encontrá-lo. Não conseguia imaginar-se agora sem Ele.

Mas o Homem, sentia medo, sabia que nunca poderia tê-la plenamente em seus braços, e que apesar do grande amor que sentia por Ela, aquilo o sugava. Pois então a “acovardar-se” e a dar ouvidos à “razão” que não estava em seu peito. Mas como é que podemos chamá-lo então de covarde? Como podemos julgá-lo como tal, se esse era um amor impossível? Quem poderá algum dia saber de seus motivos, ou como este Homem sentiu-se?  

A Tempestade não o entendia. Ela havia tentado fugir, evitar, mas agora só queria entregar-se. Mas o Homem não mais aparecia, e em todo fim de tarde, Ela derramava suas lágrimas e bradava, para que o homem por quem se apaixonou, e estava amando aparecesse.       Mas Ele não mais aparecia, e a tristeza era o que para Ela restava. E sim o queria mais que nunca, mas parecia aos poucos contentar-se que não mais o teria.

E então se perderam em suas vidas, e em seus mundos. Mas aquela ligação que tinham nunca acabou. O amor entre eles era maior até mesmo que o próprio fim. E Ele, Homem, Ela, Tempestade, continuaram lá no fundo com a certeza de que um dia, em algum lugar, vão poder estar juntos e se amar para todo o sempre.

Alguns dizem que eles ainda hoje se encontram, em um ou outro fim de tarde qualquer. E que deste encontro saem lindas faíscas azuis que pairam pelo céu, e iluminam todos os cantos com um azul forte e brilhante como é este amor.

Foto: ritapalhares.blogspot.com

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