"As portas da perçepção foram abertas, tudo passa a ser como realmente é: infinito". O efêmero passa a ser intenso, mais intenso do que nunca. A vida é vista no seu sentido pleno, nada se esvai a ela. Não há mais fim nem começo, a mentira confunde-se com a verdade, no fundo sempre foi o mesmo. E...O portal da mente é aberto...

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Amuleto

As folhas caíam no parque daquela pequena cidade. Era inicio de outono e um tom melancólico tomava conta de todas as partes. As nuvens escondiam o sol, apesar de nenhuma gota de água ameaçar cair. Ele caminhava pelo parque, gostava disso, de estar só e caminhar sem ter um destino certo, apesar de que, quase sempre parava no mesmo lugar, o parque. Nesta ocasião, ao observar o doce balé das folhas jogadas ao vento, ficou fascinado com o harmonioso evento natural, provavelmente por que se sentia como estas folhas secas. Sem cor, jogadas ao véu da existência. Em meio a tudo isso sua mente girava, não sabia bem ao certo o porquê. Lembrou que não comia nada desde o desjejum, e isto fazia já algum tempo, só não sabia quanto.

Nunca havia sentido esta sensação, sua vista estava ficando turva, e foi sendo acometida por uma escuridão cada vez mais intensa, já não conseguia enxergar mais nada. Lutava para permanecer em pé, até que chegou o momento em que não mais resistiu e se entregou, o desmaio foi inevitável...

Tempos depois desperta, sua cabeça doía insuportavelmente. Não sabia quanto tempo havia estado ali desmaiado. À medida que foi recobrando a consciência percebeu que ainda estava no parque, porém havia algo de diferente.  Flores despontavam nas arvores e o que antes extravasava melancolia ganhava uma vida e luz incomum. Uma diversidade de cores tomou conta daquele parque, antes sombrio.

Em meio a toda aquela aquarela, algo que parecia vim dos arbustos do parque o atraía, como se fosse uma força magnética e sobre-humana. Não entendia o que estava acontecendo, a tontura já havia passado, apesar de uma leve dor de cabeça ainda persistir a incomodá-lo. Neste momento por entre as arvores ele vê uma sombra, não estava só como imaginava.
- Quem está aí?- A pergunta era inevitável.
Nitidamente a sombra se apresentava como sendo a silhueta de uma pessoa, apesar de não ser possível da distancia em que se encontrava distinguir-lhe o rosto. A única coisa que conseguia ver eram partes das roupas, que eram demasiadas coloridas como o ambiente ao redor.  

Ao se aproximar a figura estranha passou a fugir, e ele o perseguiu, queria saber quem o observava. Durante não mais que alguns minutos de perseguição chegaram às margens do lago, e a figura de roupas berrantes estava a sua margens.

Não podia acreditar no que via, ou melhor, em quem via. A figura que perseguia, era ele mesmo, perseguia a si próprio, ou há uma figura idêntica a ele.
- Mas como isto podia estar acontecendo? Como uma simples caminhada havia findado em tal fato?- Eram algumas das coisas que se perguntava em meio a um turbilhão de pensamentos desorganizados e confusos.

Aquela pessoa, vestida com vestes que nunca imaginou antes usar, era ele, não entendia como, mas se via com aquelas roupas. Portava uma espécie de pingente em forma de sol, ou mandada, não conseguia ver bem o que estava pendurado no pescoço de sua “cópia”. Era aquilo que o atraía por entre os arbustos, antes. Dalí vinha à força magnética que ele seguiu. Aquele amuleto que nunca havia visto antes emanava uma energia que o deixava “nu” por dentro. Toda a sua alma se abria, todos os seus “eus”, medos, monstros, arrependimentos, tudo que o fazia sentir. As pessoas que amava começavam a aparecer, ele se via por dentro, naquela outra pessoa, que na verdade era si mesmo.

Sua mente começava a girar novamente, tinha medo de estar ficando louco, não compreendia o que estava acontecendo. Parecia mergulhar naquela espécie de amuleto, que tanto dele o traduzia. Uma nova confusão de luzes aconteceu, a luz ao seu redor diminua e o tom melancólico do parque retornava. Pensou está despertando de um sonho, mas agora uma dicotomia tomava conta de tudo ao seu redor, o ambiente colorido e parecido com a primavera ainda permanecia lá, mas dividia espaço e se confundia com um clima sombrio e nefasto. Não conseguia distinguir o que acontecia ao seu redor, era uma confusão de cores que criava um ambiente plural, a única coisa que conseguia tomar a sua atenção em meio a tudo aquilo era o amuleto pendurado no cordão de seu outro eu, que a esta altura já havia desaparecido em meio a tudo aquilo. As coisas voltaram a escurecer novamente...

Despertou do desmaio, estava mais uma vez no mesmo lugar que havia caído da primeira vez. Estranhamente ao acordar tudo estava como da primeira vez, as folhas ainda caíam, não havia mais cores nem tão pouco flores, era outono novamente. Suspirou de alivio, tudo aquilo não havia passado de um longo e sombrio sonho.

Levantou-se, e decidiu retornar para a casa, fazia muito tempo que havia saído. Foi quando percebeu que algo balançava em seu pescoço, ao olhar não acreditou no que acabava de ver. Era ele, o amuleto de seu “sonho”.  
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