Ela preparava-se mais
uma vez para entrar no palco da pequena casa de shows, que lembrava um antigo
cabaré, sobretudo pelo aspecto meio antigo e clássico, uma fachada com
ornamentos que lembravam o período barroco.
Na porta do pequeno quarto, que transformara-se em camarim, o dono da
casa aparecera já esbravejando pela demora da estrela daquele pequeno
estabelecimento. Sabia ele que a maioria dos clientes, já incontentes, vinhera
para vê-la. Emanuelle ainda terminava seus últimos retoques na maquiagem, e
ficou indiferente aos gritos de seu patrão. Vagarosamente levantou-se após
terminar calmamente os retoques em seu rosto. O vestido branco delineava-se
sobre seu corpo, desenhando-o como que perfeito. Avançou contra o senhor
barrigudo de cabelo pintado de preto e terno amarelo, lentamente colou seus
lábios vermelhos sangue na bochecha do patrão, e seu Manoel quase que
enfeitiçado calou-se, como se aquela marca vermelha em sua bochecha tivesse
amordaçado sua boca. Sucumbiu sem resistência ao encanto daquela linda mulher. Emanuelle
sabia que tinha poder sobre os homens que a cercava, e sabia exatamente o que
fazer para que eles fizessem sua vontade.
Seguiu pelo escuro e
estreito corredor que levava ao palco. Sua pele amarronzada, seus lábios carnudos
e seu rosto levemente arredondado, fazia os dois seguranças ali esquecerem de
seu trabalho para contemplá-la. Seu corpo cheio de curvas desenhadas pela roupa
que lhe cabia como por encomenda, dificilmente uma roupa não lhe cairia bem. Sua
beleza fazia inveja até mesmo a Afrodite ou as mais belas musas. Era a poesia
incorporada, não só sua inspiração. Subiu no palco, era ali que brilhava, e não
só pelos pequenos cristais do seu lindo vestido dado pelo prefeito da pequena
cidade.
Os homens ali embaixo literalmente
babavam a sua presença, e ela sabendo de seu poder, os encarava um a um, com
uma olhar cor de mel que deixava todos hipnotizados, em transe. Ela
despertava algo que beirava o sobrenatural naqueles ali. As mulheres , por mais
belas que fossem, eram ofuscadas por sua beleza, balbuciavam comentários
mesquinhos em que nem elas próprias de fato acreditavam. O senhor que dançava com sua
mulher entortava o pescoço como um contorcionista para ver melhor as curvas de
Emanuelle, o que o fez levar uma bronca tremenda acompanhada de um belo tapa de
sua “patroa”. Era de fato uma energia que atraía e mexia com todos, capaz até de
ocultar e deixar passar despercebido sua falta de talento cantando, e os erros
de sua limitada banda. O cent ro da atenção era ela, todos apenas a
contemplavam, seu corpo, seu gestos, a forma sensual com que parecia balbuciar,
e não cantar, as musicas. Sem duvida era um ser de outro mundo.
Depois de quase duas
horas de show, que mais pareceu um transe coletivo, onde esvoaçavam-se, rosas
chapéus, e até mesmo dinheiro com direção ao palco, Emanuele terminava seu
espetáculo. Todos cercavam a saída do palco, o desejo era de tocá-la,
possuí-la, era uma deusa, e ela sabia disso, soltava beijos para os fãs
enlouquecidos. O caminho de volta para o camarim era sempre mais difícil, ali
nada mais importava, todo aquele desejo e adoração que tinham por ela. Estava
só mais uma vez, e o dinheiro conquistado com aquele seu jeito que contaminava
até os mais tímidos, não supria o vazio que sentia por dentro. Em frente ao
espelho, seu sorriso tomava tons cinza, e a estrela não mais brilhava. Sua
maquiagem era borrada pelas incansáveis lagrimas que derramava sozinha, como
sempre foi, em frente aquele antigo espelho.
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