A tarde ia se despedindo em seus últimos suspiros, e as
frestas amarelas do sol atravessavam as pequenas janelas entreabertas da
cozinha. Aquele cheiro inconfundível pairava no ar, o café estava quase pronto,
mas a lembranças que se passavam pela minha cabeça me diziam que faltava algo.
Engraçado estas coisas da vida, tem cheiros que te marcam. Pessoas
que te marcam. Faltava um pedaço, mas eu ainda vivia, sobrevivia ,não sei dizer
ao certo. Acho que as coisas são assim, você segue sempre para frente, e coisas
vão ficando para trás. Aqueles beijos enquanto a água ainda estava no fogo, por
vezes acabava passando do ponto. Acho que as chamas daquele antigo fogão a
lenha, acabava nos contaminando, e o que começava na cozinha, quase sempre
acabava no quarto, ou no sofá. Os sorrisos pouco tempo depois, anunciavam o
gozo de desfrutar muito mais do que aquele afetuoso café.
Não sei o que aconteceu, talvez tenha sido a rotina. Mas como
pode alguém enjoar daquele cheirinho de café de fim de tarde. Palavras que
ouvira outrora ecoavam ainda na minha mente. E aos poucos ia descobrindo o que
lá o fundo já sabia...
O café está pronto,
volto de meus devaneios de um passado real, e não tão distante. Encho a minha
xícara preferida, e mais memórias passam pela mente. Tomo alguns goles, tenho a
impressão que falta algo. Não está tão doce como era de costume, mas sei que o
açúcar não ajudaria a adoçá-lo. Sento no sofá, deixo as lembranças de lado, e
continuo a tomar o meu café amargo...
Substancialmente viciante. Excelente descrição!
ResponderExcluirValeu ;)
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